Quando o último Prêmio da Música Brasileira aconteceu, em 2018, Anitta e Ludmilla eram amigas, o piseiro não tinha estourado, Luisa Sonza e Jão ainda eram promessas e pandemia era apenas uma palavra distante. Quatro anos depois, a premiação que celebra os destaques do cenário musical brasileiro está de volta, com cerimônia marcada para o dia 31 de maio, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No alto de seus 50 anos de carreira, Alcione será a grande homenageada da noite.
Em 2019, não houve prêmio por falta de patrocínio. Nos três anos seguintes, o motivo foi a pandemia da Covid-19. Agora, neste retorno, a ideia é fazer uma versão ampliada, que vá muito além da cerimônia, diz José Maurício Machline, mente por trás do prêmio desde sua primeira edição, em 1988. Para se adequar aos novos tempos — não somente da música, mas das tecnologias que regem a cultura como um todo —, o Prêmio da Música Brasileira vai virar uma plataforma com objetivo de incentivar artistas de todo o país. Os quase dez mil inscritos na premiação estarão catalogados num site, mapeados de acordo com a região de onde vêm e o gênero que representam. E vão inspirar minidocumentários que poderão ser exibidos no streaming.
— Este é um trabalho inédito, vai trazer uma riqueza e uma abrangência que não ficam mais na noite dos premiados. Vai ser um serviço feito pra quem faz música no Brasil. Nunca tivemos nem próximo desse número de inscritos. Hoje ficou mais fácil gravar, não só em termos tecnológicos, mas em termos de custos — diz Machline.
Para a empreitada, o diretor do PMB tem uma nova sócia. Heloísa Guarita trabalha no setor de alimentos há 30 anos, presta consultoria para grandes empresas do segmento e empresta à premiação uma visão mercadológica, muito bem recebida, ao que parece, por Machline. Ela também se empolga com a nova fase do projeto.
— A plataforma vai ser uma ferramenta de consulta em tempo real para você entender o que está acontecendo em termos de música no Brasil. E aí você tem uma exploração tanto cultural como econômica. Uma marca quer se conectar com o quê? De que forma? De onde vêm os ritmos? O que está despontando? O que é bom, de verdade, o que é tendência? O prêmio pode oferecer muito mais em termos de informações e conectividade, com uma inteligência por trás que te dá dados — afirma.
As mudanças que trazem frescor à premiação, com direção musical de Pretinho da Serrinha e cenografia de Gringo Cardia, passam pela dupla de apresentadores este ano. Lázaro Ramos vai dividir o palco do Municipal com Felipe Neto. O influenciador digital também vai emprestar seu canal no YouTube com mais de 45 milhões de inscritos para a transmissão da cerimônia.
— Essa transmissão tem tudo para impulsionar ainda mais o prêmio, principalmente com um público que talvez não tenha sido alvo nos últimos anos, uma garotada mais jovem, conectada e que também ama os artistas que estarão no evento — diz Felipe, que trata a oportunidade como um dos grandes desafios de sua carreira. — Apesar de não vir da música, eu venho do teatro, em que fiz minha vida toda antes de começar a produzir vídeos para o YouTube. A honra de apresentar o PMB é enorme, ainda mais de dividir o palco com o gênio do Lázaro.
Em fevereiro, antes de ser convidado para apresentar o prêmio, Felipe postou no Twitter: “Gente, do nada bateu uma vontade absurda de ir num show da Alcione”. Dia 31 de maio, ele mata a vontade de perto:
— Ela é uma força divina, daquelas que surgem uma em cada geração.
É sugestiva a primeira canção que Alcione, a grande homenageada da noite, vai interpretar no prêmio: “Magia do palco”, dos versos “Me sinto uma nascente que é bem recebida no mar / Com toda essa gente pra me ouvir cantar”.
— Nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar que fosse receber tantas flores em vida — diz a maranhense de 75 anos, que também será enredo da Mangueira no carnaval do ano que vem.
As flores em vida têm feito a alegria da Marrom.
— Estou extasiada com tantas homenagens, tamanho carinho que chega de todos os cantos. E, graças a Deus, podendo celebrar esse cinquentenário no palco, juntamente com os fãs, aqueles que são responsáveis pelo sucesso e pela longevidade da minha carreira. Me sinto vivenciando um dos melhores momentos da minha vida — diz Alcione.
Vale dizer que, em razão dos 50 anos de carreira, Alcione vem realizando uma turnê gratuita, por iniciativa da secretaria municipal de Cultura do Rio, pelas lonas, arenas e areninhas das zonas Norte e Oeste da cidade.
O Prêmio da Música Brasileira também fez mudanças nas categorias que serão disputadas. Serão 15 este ano. Não há mais o prêmio de melhor DVD, por exemplo. Agora, clipes e docs podem disputar juntos uma mesma categoria, a de melhor produção audiovisual. A antiga categoria, que contemplava pop, rock, reggae, hip hop e funk, passa a se chamar música urbana. Outra: sai melhor cantor e melhor cantora, entra melhor intérprete.
— O mundo mudou de maneira impressionante e essa classificação (cantor ou cantora) não é mais necessária. As pessoas estão cantando, independentemente de gênero. Como eu agrupo sem ser leviano? Achamos essa maneira a mais adequada — diz Machline.
Fonte: https://oglobo.globo.com/google/amp/cultura/musica/noticia/2023/04/premio-da-musica-brasileira-volta-apos-quatro-anos-com-homenagem-a-alcione-e-mudancas-nas-categorias.ghtml